sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Trinta (A passagem das horas)


"Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma cousa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso e longínquo..." (A passagem das horas, Álvaro de Campos)
Chego aos trinta sem muita clareza se isso significa um rito de passagem ou iniciação. Uso a poesia de Fernando Pessoa pra tentar me compor, já que ele sempre faz isso muito bem.
Hoje depois de muitas vivência, percebo que, " o meu olhar é nítido como o girassol... " (Alberto Caeiro). Procuro ver meus dias com a lucidez e força que essa vida além da beleza e pressa exige.
Me parece que pouco tempo tenha passado, sinto minha infância muito viva e próxima de mim, mas passei a dimensão onde apenas vivia sendo levado, para a dimensão em que me descubro no tempo tentando criar sentidos para a vida.
Nasci, cresci, me formei, fiz amigos do peito, encontrei o grande amor da minha vida, perdi três filhos.
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo..." (Tabacaria, Álvaro de Campos)
A linha reta que trilhava começa lentamente a fazer sua curva, vejo principalmente no corpo e nas marcas que não sou o mesmo dos vinte. Mas sigo atando os fragmentos que me compõem na vã tentativa de um auto conhecimento. Já descobrir que sou acima de muitas coisas, minhas incoerências e contradições, e quanto mais existo, me desconheço.
Obrigado vida, Léia, família, irmãos e amigos!
"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só..." (O pastor amoroso, Alberto Caeiro.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário